
Catarina Mattos

A voz feminina da Rádio Sociedade da Bahia é Catarina Lima Mattos, de 39 anos. Baiana de Salvador, Catarina é formada em jornalismo e "rubro-negra desde a barriga de minha mãe", como se define. Hoje é repórter de campo e setorista do Esporte Clube Vitória, o que, segundo ela, não tem nada a ver com a torcida. "Foi coincidência e durante o trabalho prevalece a imparcialidade".
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A relação com o futebol é forte, começou ainda na infância, e como para a maioria das crianças, por influência do pai, Osvaldo Mattos. "Ele sempre foi apaixonado pelo esporte. E, além de acompanhar o Vitória nos estádios, no rádio, meu pai disputava um campeonato amador no clube onde éramos sócios, Asbac. Eu e meus irmãos íamos, a princípio, para brincar e, aos poucos, fomos acompanhando os jogos dele, isso no final da década de 90".
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Precisou de pouco para se tornar uma rotina e o futebol de fato ser parte da vida de Catarina. Ela lembra com carinho da época em que se divertia com a irmã. "Tinha camisa, bandeira. Várias pessoas torcendo. Era muito legal. Gostei tanto que passei a não perder um jogo. Foi assim por vários anos. Eu e minha irmã éramos torcedoras ferrenhas do Mandrake", conta
A primeira vez que fui a um estádio foi em 92. Era a Fonte Nova e eu tinha 12 anos. E o jogo que mais me marcou naquele ano, que considero o meu início como torcedora, foi o BAxVI que terminou 3x3 e deu o título de campeão baiano ao rubro-negro. Até hoje lembro daquele jogo. Da comemoração. A festa linda que a torcida fez e a felicidade de meu pai. Lembro de Arturzinho, principal jogador daquele time, no ombro de alguém festejando muito aquela conquista. Foi lindo e inesquecível.
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Com o ambiente fértil para o futebol, não deu outra. Catarina se apaixonou pelo esporte e, para a sua felicidade, viu na família e nos amigos o apoio para se tornar uma torcedora e, no futuro, uma profissional. "Minha família sempre apoiou. Como o futebol é algo muito presente nas nossas vidas, o fato de eu trabalhar com esporte sempre foi encarado com muita naturalidade e até orgulho", conta.
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A paixão, inevitavelmente, se estendeu para a vida profissional. A escolha do curso na faculdade foi pensando numa carreira com o esporte. Catarina queria ser jornalista esportiva. "Meu primeiro estágio foi o universo conspirando a favor. O ano era 2004 e a empresa era a TV Educativa. Fui para uma entrevista para uma vaga de estágio no jornalismo geral, mas ao chegar na entrevista, a gerente de jornalismo na época, Soraya Mesquita, me disse que a vaga já tinha sido ocupada, mas que tinha uma vaga no esporte. E perguntou se eu tinha interesse. Eu quase me ajoelhei para agradecer", lembra.
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Catarina foi contratada algum tempo depois. Passou pela produção e pela edição e participou da bancada do Cartão Verde, programa da TVE. Fez testes para a reportagem, mas a timidez em frente às câmeras não permitiu que continuasse. Foi para a Record, trabalhou com jornalismo geral até que, em 2015, o gerente de Esporte da Sociedade, Espedito Magrini, queria uma voz feminina na equipe, e encontrou. Catarina, desde então, está na casa.

Trabalhar com aquilo que sempre desejou é uma felicidade imensurável, mas quando se trata de uma profissão como a de Catarina, que envolve um ambiente majoritariamente masculino, situações desagradáveis são recorrentes. "Já me senti inferiorizada muitas vezes. Já perdi as contas. O ambiente no rádio esportivo baiano ainda é muito machista. Basta dizer que hoje sou a única mulher atuando como repórter em rádio aqui em Salvador. E esse cenário mudou muito pouco se comparar com a época em que eu comecei, em 2005", lamenta.
A relação atual com os colegas é muito boa, mas ela atribui isso à sua forma de lidar com as situações. "Quando eu entendi que eu não precisava atender a expectativa de ninguém, isso facilitou. Aliviou. Porque tem sempre alguém com uma dica, com uma sugestão, mas ninguém vem dar o feedback, então comecei a entender que tantas sugestões de como eu deveria fazer, era uma forma de intimidação também", destaca.
Quando era repórter de torcida, já passei por várias situações delicadas. Muitos homens não respeitavam, tentavam tocar, beijar. Era horrível. Alguns se aproveitavam do momento do gol para abraçar. Eu gritava! Foi tão ruim que na Arena Fonte Nova, na hora do gol eu me escondia. Isso é deprimente. Jogos de muito apelo, de casa cheia, já pedi para não fazer por me sentir insegura. Isso é um absurdo!
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