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  (FOTO: ASSESSORIA/CBF)

O JOGO SÓ TERMINA QUANDO ACABA. MAS O QUE VEM NA SEQUÊNCIA?

O fim do tempo regulamentar de uma partida pode significar muitas coisas: a conquista de um título, uma derrota inconsolável, a desclassificação, um rebaixamento... ou uma nova oportunidade. Em situações específicas, os 90 minutos não são suficientes para definir o placar e os clubes precisam de novas oportunidades para mudar aquela história. O jogo terminou, mas não acabou. 

A Copa do Mundo Feminina de 2019, na França, foi como os 90 minutos de um clássico: muitas emoções, muitos lances importantes, um verdadeiro divisor de águas na história do futebol feminino. Mas não foi o suficiente. O Mundial terminou, a tradicional Seleção dos Estados Unidos (país reconhecido por valorizar o futebol feminino) levantou o caneco mas, e agora? O que vem depois disso?

Os números dessa edição foram espetaculares. Nunca se viu tanta mobilização para acompanhar os jogos, tanta divulgação, tanto "clima de Copa" em torno de um Mundial Feminino. No Brasil, as atenções ficaram divididas entre a Copa feminina e a Copa América, competição disputada pelas equipes masculinas dos  países da América do Sul. Ainda assim o brasileiro voltou os olhos para o que, por muito tempo, ficou de lado: o talento das mulheres.

Pela primeira vez na história a Globo transmitiu em  TV aberta os jogos do Mundial de 2019, especialmente os da Seleção Brasileira. E o ciclo de "primeiras vezes" não parou por aí: em novembro desse ano, após a repercussão o record de audiência, a emissora transmitiu pela primeira vez um amistoso da equipe feminina. A partida, contra a China, válida pela final do Torneio Amistoso, terminou com vitória das chinesas nos pênaltis.

A importância de uma emissora como a Rede Globo transmitir os jogos da equipe feminina se justifica no fato de que a relação entre a televisão e o futebol no Brasil é o que vai refletir na visibilidade da categoria e, por consequência, no retorno financeiro através do despertar do interesse do público. O resultado, aparentemente, foi sentido ainda durante a competição, já que a emissora decidiu transmitir a final do torneio mesmo sem o Brasil em campo. 

Nesse cenário de bons números, o Brasil não fez feio: batemos o recorde mundial de audiência do torneio em todo o mundo! Foram 30 milhões de pessoas acompanhado a partida entre Brasil e França, pelas oitavas de final, que eliminou as brasileiras da competição.

A Federação Internacional de Futebol (FIFA) divulgou em outubro, três meses após o fim do torneio, os dados mundiais de audiência.  A competição  atraiu uma audiência de 1,12 bilhão, superando a meta esperada pela FIFA, que era de 1 bilhão de espectadores. 

Os números do Brasil foram divulgados pela Federação ainda julho e apontavam que a final entre França x Estados Unidos foi mais assistida aqui do que no país das campeãs. Foram 19,9 milhões de brasileiros contra 15,2 milhões de americanos.

 

Esses números, no entanto, só contabilizam o número de telespectadores da TV Globo, pela rede aberta, e do SporTV, seu canal fechado, sem incluir o da TV Bandeirantes, que também transmitiu a última partida, em 7 de julho de 2019. 

AUDIÊNCIA DA COPA DO MUNDO DE 2019

TV Analógica

1,12 BILHÃO

acompanharam o Mundial 

993,5 MILHÕES

assistiram por uma televisão

82,2 MILHÕES

assistiram ao vivo à final do torneio

43%

veio das plataformas digitais de transmissão

Fonte: Federação Internacional de Futebol (FIFA); 2019.

Em comparação à edição de 2015 da Copa, sediada no Canadá, os números aumentaram consideravelmente. O número de pessoas que assistiu ao torneio pela televisão aumentou 30%. Já a quantidade de espectadores que acompanharam a final aumentou em 56% em relação à última Copa. 

A ASCENÇÃO DO MOVIMENTO GO EQUAL 

Algumas cenas ficaram muito marcadas na Copa do Mundo de 2019. Uma delas é da partida entre Brasil e Austrália, a terceira partida da Seleção Brasileira na competição. Na ocasião, a jogadora Marta, eleita seis vezes a melhor atleta de futebol do mundo, usava uma chuteira sem patrocínio. Ao marcar o gol que lhe rendeu o título de maior artilheira das Copas, todos puderam notar a diferença, quando ela apontou para os pés. 

O acessório carregava, no lugar do logo da marca patrocinadora, um símbolo de igualdade em degradê nas cores rosa e azul. Era o símbolo do Movimento Go Equal, um projeto de faz parte da campanha pelas mulheres da Organização das Nações Unidas (ONU) e busca a igualdade salarial entre homens e mulheres no futebol. 

 

A representatividade da partida  que lhe rendeu mais um grande título não tinha como passar em branco. Como a maior artilheira de todos os tempos, mais vezes vencedora do prêmio de Melhor do Mundo da FIFA pode continuar em uma situação desigual no que se refere ao salário quando comparado aos homens?  

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Marta

  (FOTO: DIVULGAÇÃO/GO EQUAL)

A jogadora do Brasil é embaixadora da ONU desde 2018 e a escolha da imagem dela está além disso. Apesar de ser uma das maiores futebolistas do mundo, entre homens e mulheres, Marta não havia fechado com nenhuma das grandes marcas como patrocínio. O motivo? Os valores oferecidos foram muito baixos. Daí, do limão, fez-se uma limonada. A falta do patrocínio e o espaço vago na chuteira abriu a vaga para estampar a marca do movimento que ganhou as redes sociais durante a Copa do Mundo. 

O movimento ganhou a atenção do público e a adesão de figuras públicas, que saíram em defesa da mesma bandeira, como a apresentadora Fernanda Gentil e a atriz Paolla Oliveira. As redes sociais somam quase 88 mil seguidores e, o mais importante: quem estrela a campanha são as pessoas comuns. No feed do instagram, fotos de mulheres do mundo todo com uniformes e o símbolo da campanha feito com os braços.  

o futuro do futebol feminino no brasil

A repercussão dos bons números da Copa, a nova relação das emissoras de TV com o futebol feminino, a boa adesão do público ao Movimento Go Equal e o novo olhar do brasileiro para a categoria, tudo isso nos últimos cinco meses de 2019, mudaram o cenário que se estendia nos últimos anos. Mesmo com essa nova fase, é preciso olhar para o futuro e pensar o que fazer com ele. 

Essa é uma geração da Seleção Brasileira que caminha para o encerramento de seu ciclo. Marta Cristiane e Formiga, por exemplo, já são nomes antigos e que, em breve, devem deixar de vestir essa camisa. E é por isso que novas jogadoras precisam chegar. E como isso acontece?

Assim que o apito final da partida que eliminou o Brasil da Copa do Mundo soou, Marta fez um desabafo emocionante antes de deixar o campo. Lembrou que, em pouco tempo, ela e as colegas não poderão sustentar mais a Seleção e cobrou das meninas que querem ser atletas o empenho para dar continuidade ao bom momento da categoria no país. 

"É isso que peço para as meninas: não vai ter uma Marta para sempre, não vai ter uma Formiga para sempre, não vai ter uma Cristiane para sempre. O futebol feminino depende de vocês! Valorizem mais! Chorem no começo para sosrrir no fim", disse, emocionada. 

A preparação dessas meninas para um futuro como atleta vai depender de uma série de fatores ao longo da vida, como foi mostrado nesta reportagem. Do incentivo da família desde a infância; da oportunidade de praticar o esporte nas escolas, com auxílio de professores e em condições iguais as dos meninos; da possibilidade de se interessar pelo futebol como torcedora e frequentar esses ambientes ser desclassificada ou sexualizada; e principalmente do interesse das instituições responsáveis de que o futebol feminino se estabeleça como uma força no Brasil. 

Esse interesse deve partir, primeiramente, das Federações estaduais e da Confederação Brasileira no que se refere à construção de campeonatos bem estruturados, que ofereçam qualidade de trabalho para atletas e despertem o interesse do público, através de um calendário organizado e com transmissão televisiva, por exemplo. 

Na outra ponta, os clubes precisam dar uma chance às garotas, investir na montagem de uma equipe feminina, dar a elas condições ideais para se desenvolver um bom trabalho, empregar outras mulheres na rede que envolve a categoria, como comissão técnica e médica, de forma que haja um fortalecimento da figura da mulher dentro desses espaços. 

O futuro segue incerto, já que, apesar dos notáveis avanços, ainda existem notáveis empecilhos. As mulheres ainda não são consideradas profissionais do futebol, muitas ainda precisam fazer jornada dupla para garantir o sustento, já que não podem depender de seus clubes. As mulheres ainda são consideradas inferiores tecnicamente e o futebol feminino ainda é visto como um produto pouco adorado e nada rentável. 

Os 90 minutos já se esgotaram para a resolução desse problema, mas é como a arbitragem ainda não tivesse apitado o fim da partida. Quantos minutos de acréscimos ainda serão necessários para que se estabeleça a equidade de gênero dentro desse espaço? Será preciso estender aos 30 minutos de prorrogação e disputa de pênaltis para definir que quem precisa vencer essa batalha é o respeito?

 

Não há mais espaço para a desigualdade de gênero e, como bem pontuou a francesa Simone de Beauviour, "O presente não é um passado em potência, ele é o momento da escolha e da ação". É assim que se constrói o futuro. 

Apito Verde

Impedimentos

Copyright © 2019 | Impedimentos

EXPEDIENTE:

Projeto Experimental

Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo

Universidade Salvador (UNIFACS) 2019.2 

Reportagem:

Amanda Souza

Desenvolvimento web:

Amanda Souza

Imagens:

Amanda Souza

Edição:

Amanda Souza

Orientação:

Prof.ª Mariana Alcântara

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