top of page

Clara Albuquerque

Baiana de Salvador que vive em Turim, na Itália. Essa é Clara Albuquerque Melo Lima, de 36 anos, jornalista formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) que, atualmente, é correspondente internacional dos canais Esporte Interativo/Turner, responsável pela cobertura das equipes italianas.
​
A história de Clara com o futebol é antiga. "Meu pai e meu irmão gostam de futebol, mas a pessoa mais apaixonada pelo esporte na minha casa é a minha mãe", conta. " Ela foi a minha inspiração, ia para os estádios, é torcedora fanática, sempre acompanhou muito futebol, então pra mim sempre foi uma coisa muito família, muito normal, muito comum", lembra Clara.
​
Essa aproximação desde nova rendeu um reflexo na carreira. Há mais de 10 anos, Clara lançou um livro, um Guia de Futebol Para Mulheres, como um produto para o seu trabalho de conclusão de curso da graduação em jornalismo. Foi esse o trabalho que abriu as portas do mercado jornalístico para Clara, que passou por muitas redações até chegar à Itália.
​
"A partir desse livro eu fui convidada para escrever uma coluna no Jornal Correio. De lá, fui convidada pela TV Bahia para começar a comentar futebol e a partir daí eu trabalhei no SporTV". comentando jogos de Bahia e Vitória", destaca. Depois dessas experiências, Clara se mudou para o Rio de Janeiro e começou a trajetória no Esporte Interativo. "Trabalhei como apresentadora, como comentarista e há quase três anos eu vim trabalhar na Itália como correspondente internacional".

Ao lembrar das dificuldades que enfrentou na carreira por ser mulher, a jornalista afirma que ouviu muita piada e sofreu com o machismo institucionalizado. "Já sofri assédio, sim. Acho que é difícil encontrar uma mulher que trabalhe no meio do futebol e que nunca tenha sofrido assédio. Eu nunca sofri um assédio físico, algo mais grave, mas você escuta piadinhas, palavras em estádio e esse tipo de coisa é relativamente comum", diz.
​
Vivendo na Itália, Clara garante que as situações que envolvem preconceito não são diferentes das do Brasil. "A Itália também é um país bastante machista. Em muitos programas televisivos e também na imprensa escrita, a mulher ainda é usada como objeto de decoração ou destacada por atributos físicos".
Apesar das semelhanças, ela destaca uma diferenças entre as realidades. "Aqui esse machismo é mais velado. Não me sinto insegura, por exemplo, em ir a um estádio sozinha. Acredito que, apesar do machismo existir, ao menos existe uma segurança maior".
A jornalista conta que nunca se sentiu inferiorizada dentro do ambiente de trabalho e atribui isso ao fato de ter conseguido se impor desde sempre. Isso não impediu, no entanto, que tentassem diminuí-la, mas se reconhecer enquanto mulher e competente foi um processo importante para lidar com essas situações.
​
Quanto aos comentários negativos oriundos do machismo, Clara pontua ter "a sensação que é cada vez menos, principalmente quando eu comecei, como comentarista. No início da carreira eu escutava muita frase de preconceito, de machismo, aquela história de que se a pessoa discordasse do meu comentário, era por que eu não entendia de futebol, era porque eu era mulher".
​
Para ela, a figura da mulher no esporte sofre como a figura da mulher em qualquer outro âmbito. "A figura da mulher ainda é vista como inferior, como café com leite, como adereço, como objeto de decoração, de embelezamento. Eu acho que é apenas um reflexo do que acontece na sociedade.", diz.
Quando eu comecei a trabalhar, há 10 anos, isso era muito mais forte. Eu era quase a única comentarista que existia. Tinha apenas mais uma outra comentarista em todas as TVs. Hoje está mudando. O movimento Deixa Ela Trabalhar foi importante para gente começar a falar sobre isso. Na minha opinião, quanto mais a gente fala sobre um assunto, mais a gente entende e começa a mudar o que não está bom.
"
A desconstrução desses pensamentos é necessária, mas não tão fácil. Para Clara, é necessário acontecer uma mudança na forma de pensar. "É um caminho complexo porque ele envolve a sociedade como um todo. O futebol não vai ser uma ilha alheia à sociedade machista em que ele está inserido. Então, a sociedade precisa melhorar, evoluir de um pensamento machista para um pensamento feminista, que significa nada menos que igualdade de direitos e deveres também".
bottom of page