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Luana Leal

Luana Leal

Apito

Ser treinador de futebol no Brasil é sinônimo de instabilidade. Num país em que o resultado imediato é o que dita as regras do jogo, é muito difícil construir um trabalho sólido. E se é difícil para os homens, ditos os donos desse espaço, imagine para as mulheres? Luana Leal tem 34 anos, é formada em Sports Science pela Tusculum University (no estado do Tennessee, EUA), e Licenciatura em Educação Física pela Universidade Claretiano. Hoje, é treinadora de futebol feminino. 

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Além de treinadora, é amante do futebol também como telespectadora. Torcedora do Flamengo e simpatizante do Bahia, como se define, Luana nasceu e vive em Salvador. Sobre a forma como o futebol apareceu na sua vida, ela não lembra de um momento em que essa relação não existiu. "Me arrisco a dizer que apareceu na minha vida junto com a minha vida", define. 

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A primeira inspiração foi o irmão, três anos mais velho que ela e também que já gostava de uma bola. Depois, após a Copa do Mundo de 1994, foi acometida pelo fenômeno Romário, que passou a ser um ídolo. À época, Luana tinha nove anos. 

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Mas a história que ela própria escreveu começou aos 15 anos, nos Estados Unidos. A baiana viajou até Wisconsin para um intercâmbio. "Lá eu joguei pela primeira vez ao lado de meninas, num time de verdade. Já tinha jogado futsal aqui, mas nunca futebol de campo. Nessa minha participação no time do Campbellsport High School eu acabei tendo um grande destaque, fazendo 23 dos 25 gols do time no campeonato", conta. 

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Com a boa participação, surgiu ideia de ganhar uma bolsa de estudos nos EUA. Mas, no fim das contas, ela voltou para o Brasil, completou o ensino médio e prestou vestibular para educação física. Até que o sonho falou mais alto. "Enviei vídeos para várias universidades nos Estados Unidos e acabei recebendo a proposta da Tusculum College, onde joguei durante os 4 anos que estive lá, sendo capitã no último ano, na melhor campanha da história do time".

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Mais uma vez o destino colocou Luana de volta no Brasil, onde foi contratada por uma escola para treinar os times de campo das categorias femininas e masculinas. Por 10 foi assim, mas, quando engravidou, precisou abdicar de uma das categorias para cuidar do seu filho, e escolheu ficar com as meninas. 

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Luana acredita que a figura de uma mulher como treinadora é importante para as meninas. "Sinto que as minhas alunas se inspiram em mim, na minha história". Mais importante que isso, a treinadora enxerga que há algumas situações na vida que lhe deram mais possibilidades que outras profissionais. 

Desde que comecei a treinar os times femininos de futebol na escola, a modalidade ficou muito popular. Hoje temos mais meninas do que meninos jogando. O fato de eu ser mulher, casada com um homem, bem sucedida, mestre em educação, com certeza facilitou para que a comunidade passasse a apoiar a modalidade. Infelizmente se eu fosse homossexual, ou não tivesse um mestrado, com certeza os pais pensariam mais antes de dar apoio para as filhas.

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Ser, hoje, uma professora, é se colocar também no papel da aluna. As histórias que Luana viveu quando criança, querendo jogar futebol, servem como um aprendizado para a profissão. Ela conta que, na escola, foi impedida de jogar um campeonato por que não poderia jogar com os meninos e foi orientada pelos pais a conversar com o professor e pedir para jogar. "Foi quando ele me fez a pergunta que eu nunca mais esqueci.. ele falou 'seus pais sabem disso?' Até aquele momento eu nunca tinha parado para pensar que o fato de eu jogar futebol pudesse trazer algum constrangimento para meus pais".

As experiências de uma mulher que está diretamente ligada ao futebol, infelizmente, costumam estar ligadas a fatos de machismo e intimidação por parte dos homens  e até de mulheres. Luana consegue dividir essas experiências em dois momentos. "Como torcedora o mais difícil foi ir ao estádio. Homem consegue ir ao estádio sozinho, ou só com um amigo. A mulher precisa ir com mais gente, e jamais sozinha. Parece que está indo para um abatedouro", lamenta. 

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Já como profissional, os preconceitos afastaram até namorados, que se sentiam "intimidados" por uma mulher que sabia mais de futebol que eles.  Mas para ela, a maior dificuldade foi superar as próprias inseguranças e o medo de errar. 

Eu queria mostrar resultado logo para ganhar o respeito de todos foi o mais difícil. Eu me cobrava muito para ser perfeita, não cometer erros, pois uma mulher que comete erro no futebol não entende de futebol. Um homem que erra no futebol, apenas errou. 

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Ela ainda recorda de outras histórias. "Como atleta me lembro de um campeonato na 7ª série. O professor anunciou um campeonato de futsal, e eu comecei a chamar meninas para jogar no meu time. No dia seguinte, uma mãe de uma das minhas colegas que eu havia chamado veio falar comigo que era pra eu parar de querer levar a filha dela pro mau caminho, e que eu devia ter vergonha de estar fazendo isso. Como professora também já ouvi mães revoltadas porque a filha quis sair do ballet para fazer futebol comigo".

Para um futuro melhor para ela, outras profissionais e meninas das próximas gerações, Luana acredita que o caminho é o investimento e o interesse. "O futebol no Brasil ainda é muito machista. Ainda se associa o futebol a imagem de homem "cabra-macho", "bruto", e isso leva ao preconceito das meninas que se interessam pelo esporte. No fim das contas, a diferença está no incentivo. Desde o incentivo dos pais para a bebê/criança com relação a jogar bola, às empresas, mídias,  clubes, e patrocinadores".

Apito Verde

Impedimentos

Copyright © 2019 | Impedimentos

EXPEDIENTE:

Projeto Experimental

Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo

Universidade Salvador (UNIFACS) 2019.2 

Reportagem:

Amanda Souza

Desenvolvimento web:

Amanda Souza

Imagens:

Amanda Souza

Edição:

Amanda Souza

Orientação:

Prof.ª Mariana Alcântara

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