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Maurícia da Matta

Com a teleobjetiva nas mãos, um banquinho para garantir um bom lugar atrás do gol e a concentração para registrar os melhores momentos de uma partida de futebol, o fotojornalista, no dia seguinte, vai estampar capas de jornais e telas de celulares. Maurícia da Matta, aos 30 anos, já é um dos nomes mais lembrados do segmento na Bahia.
Natural do interior do estado, da cidade de Ibotirama, Maurícia revela que, assim como a maioria das pessoas que nasceram no interior há anos atrás, torcia para o Corinthians. "Tinha uma relação cultural, como eu era do interior a programação da tv era RIO-SP". Hoje, na capital, a fotojornalista se juntou à nação rubro-negra. "Sou Vitória".
Foi na faculdade de Relações Públicas que ela teve certeza do que queria fazer para a vida. "Eu fiz uma produção audiovisual sobre os meninos de divisões de base que moravam em alojamentos, ali eu tive certeza que era o futebol que eu queria pra minha vida profissional", conta.
Além da fotografia, Maurícia também faz assessoria de imprensa para diversos atletas. Durante três anos foi a fotógrafa oficial do Esporte Clube Vitória e, atualmente, trabalha para uma agência de fotografia de São Paulo cobrindo os adversários das equipes baianas.
Para a família, foi difícil enxergar o trabalho de Maurícia como um emprego. "Eu trabalhava sem carteira assinada e a minha mãe sempre perguntava quando eu ia arrumar um 'emprego', com direitos trabalhistas, já que pra ela o futebol era uma diversão", lembra. "Foi complicado porque eu sei que eles sempre acreditaram no meu potencial, só não sabiam como isso seria revertido em dinheiro, já que eu gastava mais que ganhava para ir aos jogos", completa.

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Na verdade sempre foi uma provação diária, o futebol é um esporte extremamente machista, as mulheres são sempre objetificadas, não importa se você está de short ou de calça. Se o juiz erra, a torcida xinga a mãe dele, que nem no estádio está, coitada.
Maurícia conta que as questões de gênero interferem no trabalho com muita frequência. "É preciso ter a mente blindada ou você desiste. O dinheiro não chega da noite pro dia, você vai passar por algumas situações complicadas até se adaptar e entender o que é preciso ser feito. Pra muita gente (homens e mulheres) você está ali para conhecer algum jogador e tirar a sorte grande na vida", ressalta.
Mais que ser desencorajada, a mulher é ainda um objeto de atração para o homem dentro do futebol. "Isso irrita bastante e eu reclamo sempre que acontece para que diminua a frequência. "No meu primeiro dia no campo um fotógrafo passou a mão na minha bunda. Nossa, eu chorei tanto ali, foi o dia em que realmente eu pensei em desistir por alguns instantes", lembra.
Essas questões, no entanto, tem acontecido menos em comparação aos últimos anos. "Pra gente mudar esse pensamento nós precisamos ocupar esses espaços. Precisamos nos capacitar, bater de frente, mostrar que sabemos tanto quanto qualquer outro homem. Claro que a sociedade precisa se readequar para nos receber, mas não podemos esperar que ela mude para nos inserirmos. Precisamos ocupar e incomodar", diz.

"Essa é a minha foto que eu mais gosto. Essa, além do significado fotográfico, tem o significado sentimental, porque foi uma festa muito importante, tudo o que eu passei para tirar essa foto, que não foi pouca coisa. Se alguém me perguntar qualquer dia na vida qual a foto que eu tirei que eu mais gosto, é essa. Pra mim, ela está composta de todos os elementos necessários: a luz, o ângulo da torcida, e pra mim, ela demonstra muito sentimento. Tanto o meu com a foto quanto o dos atores da foto".
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