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Nathália Figueirêdo

No Brasil, apenas três equipes esportivas possuem uma mulher no corpo médico da categoria masculina: a CBF, o Corinthians e o Vitória. Nathália Figueirêdo, de 36 anos, é a médica do Rubro-Negro baiano, que é também o seu time de coração. Hoje é uma profissional realizada, mas não foi essa a sua primeira opção de trabalho, já que não podia ser uma possibilidade.
Nathália conta que essa especialidade ainda não existia quando estava na residência do curso de medicina. "Eu sempre tive vontade, desde criança, de trabalhar com esporte, sempre fui ligada ao esporte; pensei em fazer Educação Física, mas decidi fazer Medicina no final e talvez eu fosse fazer algo relacionado ao esporte, como cardiologia ou ortopedia".
A chance só apareceu no último ano do curso, quando ela descobriu a residência em Medicina Esportiva. "A primeira turma de residência foi em 2007, que foi quando eu fui para os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, aí sim eu bati o pé que queria fazer medicina esportiva.
Daí pra frente, só sucesso. Ainda na residência passou pelo Internacional de Porto Alegre, onde ficou cerca de um ano, e trabalhava no departamento médico interno, ou seja, nada de gramado ainda. Depois do Inter, Nathália chegou ao Vitória, em 2014, para trabalhar com as divisões de base, e é onde está até hoje, inclusive em jogos da equipe profissional.
Mas não foi fácil. Como para muitas outras mulheres em muitas outras profissões, sempre existe alguém para tentar frear o sucesso delas, e com Nathália não foi diferente. De acordo com ela, um médico tentou desencorajá-la a seguir a área esportiva com argumentos pautados no fato de se tratar de uma mulher.
Antes de tentar a residência em 2006, ao conversar com um médico que era colega meu num hospital que eu fazia estágio, eu falei que estava pensando em fazer medicina do esporte, ele era um ortopedista e disse 'você vai fazer o que lá? medicina do esporte não é coisa pra mulher'.
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Quanto à família, o que pesou foi o fato de estar longe do meio médico tradicional, de hospitais e clínicas, que são as áreas principais. Nesse caso, o futebol não foi o problema. Para os amigos, Nathália garante que eles, além de acostumados, vibram com as conquistas da carreira dela.
A relação com os colegas homens no Vitória é tranquila, ela conta, embora ainda existam algumas situações desconfortáveis no trabalho em geral. "Existe, não vou dizer que não, alguns profissionais ainda te olham atravessado como se você não devesse estar lá, mas isso tem sido cada vez menor. Os atletas, técnico, preparador, desde a base, eu nunca tive nenhum problema e agora no profissional também não", diz.
Num panorama geral, a médica garante que o preconceito nessa área está dimuindo, principalmente por conta da competência das mulheres que estão cada vez mais preparadas para exercer suas funções. "Já se percebeu que as mulheres que vêm pra trabalhar de verdade, pra agregar a equipe, vêm com uma bagagem de conhecimento, preparadas, de residência, com preparação para exercer a medicina do esporte".

Falando em estatística, Nathália é minoria indiscutível no meio. Há muitas mulheres trabalhando nas equipes femininas, mas nas masculinas o escopo é muito reduzido. E, para a médica, os responsáveis por isso são os gestores dos clubes. "O que precisa melhorar aí é a visão do próprio dirigente, de achar que a mulher está lá para atrapalhar ou ficar com algum jogador, nada disso. Eu acho que quem pode mudar isso são eles", sugere.
Ainda há muitos outros atores que são os responsáveis pela transformação desse cenário, como os próprios colegas de clubes, que costumam associar a presença das mulheres dentro das entidades a algum relacionamento com outro homem ali dentro. "Às vezes acham que você está ali muito mais por estar, digamos assim, paquerando alguém, um diretor, do que por competência", ressalta.
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Já ouvi comentários como “Nathalia está ficando com não sei quem, por isso que ela está aí ainda”, quando na verdade não é isso. Muitas pessoas acham que você está ali porque tem costas largas com alguém maior, sabe?! Eu acho que essa é a parte mais chata de aceitar.
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